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John Knoll

Texto originalmente publicado na revista 100% Skate

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Existe uma série de conexões inexplicáveis entre skate e tecnologia. Quer dizer, há caminhos para que cada uma delas seja explicada, mas como a cultura é invariavelmente subjetiva –– assim como a música, o cinema, o teatro e a dança, o skate é mais legal não sendo esmiuçado e categorizado enquanto muda de forma, gosto e opinião. 

Apesar da necessidade de uma mídia especializada forte, crítica e independente, revistas, sites, vídeos e quaisquer outras manifestações jornalísticas e/ou documentais do meio evidenciam tendências e, de alguma forma, escolhem um time de indivíduos que represente a verdade do skate para aquele momento da história. Qual é o papel da mídia nesse emaranhado de fios, opiniões, estilos e manobras tantas vezes divergentes? Penso que, já que a mídia não é mercado, nem o contrário, acabam por traçar caminhos paralelos com pontos de convergência ao longo do caminho. Agora que escrevi isso, posso voltar ao assunto inicial:

Aqui estava eu, em casa, assistindo um making of de uma produção da Disney, de uma franquia que eu acompanho desde pequeno, Star Wars. O que isso tem a ver com skate, mídia e mercado? Eu explico. Numa galáxia muito, mas muito distante, não havia skatistas tocando os departamentos de criação, branding e marketing das principais marcas do mercado, nem tampouco uma definição objetiva de tais departamentos. O foco absoluto estava em números, alcance das postagens e, é claro, faturamento. Entretanto, todo mundo faz conta, monetiza, viraliza e precisa cair com as quatro (rodas) no solo, senão é chão. O skatista profissional checa se o salário (quando existe) + photo incentive + grana do segundo patrocínio + grana como juiz de campeonatos amadores + qualquer forma adicional de ganhar dinheiro em cima, ou do lado do skate = viagem com filmer para Barcelona, Hong Kong, Los Angeles ou NY (no verão) / 1x por ano.

Pensei nessas equações, nas curvas das relações entre skatista, marca, loja e mídia, enquanto assistia John Knoll, irmão de Thomas Knoll, ambos co-inventores do programa Photoshop, falando sobre como uma ideia (dele) pode ser levada a sério pela chefe absoluta da Lucasfilm, desde a aposentadoria de George Lucas, Kathleen Kennedy. Eis um programador/engenheiro/chefe criativo da Industrial Light & Magic que, antes dos trinta, inventou um dos programas que revolucionou design, desktop publishing, cinema, fotografia, vídeo… e, mesmo assim (até hoje) passa por um árduo processo de aprovação, até que uma de suas ideias seja transformada em arte e seja lançada.

Minha primeira reação foi dizer, em completo silêncio, mas bem alto: Caramba, se esse cara não entender skate, estamos f*didos! Tá tão acostumado a cair e levantar. Aí, parti para a analogia da página ou da tela vazia, dos primeiros traços, das primeiras linhas de programação… comparei isso aos primeiros impulsos da sessão, mas parei ali. Esse casamento de ideia, talento, função e resultado, no skate, é um tanto assim diferente. Acaba fazendo sentido alguém perguntar a um skatista como funciona o skate –– e a resposta sempre começa e termina com o skatista. É sofrido, mas se os irmãos Knoll estão dispostos a encarar o império, fazer parte e lutar contra quando o groove endoida, não dá para fazer corpo mole. Skate é processo. É da mente do skatista estudar e perceber processos, aprendê-los e transformá-los, acima de tudo, em arte. E cada um apresenta e/ou vende sua arte do jeito que consegue. E a Força é conosco.

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Publicado em
4.7.2024
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