Tem um senhor que sempre passa na rua onde moro. Está sempre sorrindo. Cumprimenta sorrindo, continua andando e reaparece no dia seguinte, do mesmo jeito. Ontem, antes mesmo de passar em frente ao prédio, ele soltou um "puta que o pariu". Não estava de fone, não havia um telefone celular aparente. Nada que (me) explicasse a conexão com um outro ser na linha... alguma justificativa para o aborrecimento. Como de costume, seguiu andando e sumiu entre os carros. Hoje, ele passou sorrindo de novo. Eu gosto de ir a padaria um pouco antes das 5, quando nada demora e as mesas estão vazias. Cá estou eu, ouvindo um som, esperando o suco da tarde quando novamente aparece o senhor, que se aproxima e diz: - Rapaz, dei uma lapada numa pedra lá perto da sua casa ontem. Doeu p/ cacete! Se eu tivesse de skate, já ó! (Imita uma batida de skate), tinha passado por cima. Aí, eu perguntei: O senhor já andou?

Ele respondeu: — Rapaz, na minha idade o sujeito já fez tudo, só não morreu. Eu gosto desse negócio aí. Pega a ladeira e “tchum"! Vai deslizando.